sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Os bilionários do PT

Em 1975 a hidrelétrica de Tucuruí, a quarta maior do mundo, começou a ser construída no Pará. Dez anos depois ela foi inaugurada. Foi uma das maiores obras públicas da história do Brasil, a mais cara da Amazônia. Projetada inicialmente para custar 2,1 bilhões de dólares, no final seu valor se multiplicara por cinco, passando de US$ 10 bilhões.

Já a fortuna do dono da empreiteira principal da obra, a Camargo Corrêa, “apenas” dobrou. Em 1975, Sebastião Camargo tinha uma fortuna pessoal calculada em US$ 500 milhões. Dez anos depois ele se tornou o primeiro bilionário brasileiro.

A usina hidrelétrica, que garante 8% de todo consumo de energia do país, com seus quase 200 milhões de habitantes, lhe permitira embolsar meio bilhão de dólares, em valor não atualizado.

Quando se abriu a última década do século XX, as listas das revistas americanas Fortune e Forbes incluíam apenas três bilionários brasileiros: Antonio Ermírio de Moraes, cabeça da principal família de industriais brasileiros, e Roberto Marinho, imperador das comunicações com sua Rede Globo de Televisão, além de Camargo.

Ao final do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, eram oito. Quando Lula passou o bastão presidencial à correligionária, Dilma Roussef, a lista passara a 30. No ano passado chegou a 35. A soma das fortunas individuais desses bilionários equivalia à metade do que amealhou o homem mais rico do planeta.

Por coincidência, o mexicano Carlos Slim, que tem na carteira US$ 69 bilhões, é dono das operadoras de telefonia Claro e Embratel nesse Brasil que se tornou terreno fértil para imensos ganhos pessoais.

Eike Batista, com apenas 55 anos, um jovem na companhia de anciãos podres de rico da seleta confraria, era o cabeça do ranking, em março do ano passado, com seus US$ 34,5 bilhões. Mas ontem seu patrimônio já era de pouco menos da metade, US$ 10,7 bilhões.

Nesse dia 7 ele perdeu US$ 300 milhões com a queda das ações da principal das suas seis empresas de capital aberto, sempre com um X no nome, a OGX. Segundo a agência de notícias americana Bloomberg, ele caiu fora da roda dos 100 homens mais ricos da Terra.

No curso de um ano a OGX, perdeu mais de três quartos do seu valor porque sua produção, depois de tantos anúncios mirabolantes, frustrou todas as expectativas, principalmente a de Eike. Os analistas mais bondosos justificaram a queda contínua e grande do patrimônio do empresário atribuindo-a ao seu excesso de otimismo.

Essa exagerada autoconfiança o teria levado a prever resultados sem base real. Como a de que passaria o mexicano Slim em 2015. A meta já era difícil de alcançar quando seu patrimônio era metade da foruna do concorrente. Agora é quase sete vezes menor.

Com mais realismo nas suas ações, acreditam esses analistas compreensivos, Eike Batista retomará a roda da fortuna e voltará ao topo. Ele seria a personificação do genuíno ricaço dos tempos do novo trabalhismo no poder, personificado pelo PT.

Ganhou muito dinheiro por ser um autêntico empreendedor, apostar nas riquezas do país, arriscar investimentos na produção e ter uma visão mais ampla e sensível da atividade empresarial. Um bilionário do bem, conforme o jargão maniqueísta dos nossos tempos de retórica de camuflagem. Embora uma das duas empresas que atuam no porto de Açu, a LLX, tenha sido acusada pelo governo do Rio de Janeiro de causar danos ao meio ambiente. E multada.

Por trás da pantomima do marketing, verifica-se que o sucesso começa com boas – ou mesmo privilegiadas, no sentido estritamente técnico da expressão – informações, a maior parte delas proveniente do aparato estatal.

É também na administração pública que esses empreendedores (na Rússia mais diretamente conhecidos por “barões ladrões”, com ênfase nos produtores de petróleo do Mar Cáspio, o equivalente do Pré-Sal dos Eikes Batistas et caterva neste país varonil) vão buscar seus quadros de gestão.

Duplo uso de informações privilegiadas, pois.

No caso de Eike, com a decisiva participação do pai, Eliezer Batista, ex-ministro de vários governos e presidente da ex-estatal Companhia Vale do Rio Doce, artífice de grandes investimentos públicos em logística, infraestrutura e produção, sobretudo de commodities.

A ascensão súbita e exponencial desses ricaços, quando se confronta seus ganhos através da manipulação de papéis com o balanço real de seu ingresso no processo produtivo, expressa uma nova modalidade de associação entre o governo e a iniciativa privada.

Quando se puxa o novelo da trajetória dessas pessoas, quase sempre se chega ao ente estatal. Mas agora com novo discurso, reforçado pelos números de programas assistenciais e de “inclusão social”, que permitiram a milhões de famílias sair da faixa da miséria ou formar um novo tipo de “classe média”, montada não sobre poupança real, mas graças a um endividamento perigoso, precário, uma faca só lâmina, como diria o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto.

Tudo muda para tudo ficar igual. Ao mesmo tempo em que Eike Batista era despejado do arrolamento nobre dos homens mais ricos do planeta, a viúva de Sebastião Camargo, Dirce, pulava à frente do banqueiro Joseph Safra, tornando-se a terceira maior bilionária brasileira.

Dirce? Mas quem é Dirce, devem ter perguntado os atentos leitores do noticiário financeiro. De fato, a viúva do grande empreiteiro, discreta como o marido, deixara os holofotes da imprensa.

Mas a Camargo Corrêa, que ainda hoje, passados quase 40 anos da sua instalação na área, continua a trabalhar (e faturar) no canteiro de obras de Tucuruí, no rio Tocantins, certamente um recorde – ao menos nacional.

E funciona a todo vapor nas novas hidrelétricas de Juruá, no rio Madeira, e de Belo Monte, no Xingu, esta destinada a ocupar o lugar de Tucuruí no ranking das maiores usinas do mundo.

No ano passado essas duas frentes de serviços responderam por 30% dos 17,3 bilhões de faturamento da empresa. Continuará assim pelos próximos anos, um maná tão parecido, na administração petista do Brasil, àquele que os governos militares providenciaram para sua empreiteira favorita. A ditadura virou democracia, mas o dinheiro é o mesmo, embora avolumado na drenagem para mais bolsos privilegiados.

A multiplicação dos bilionários bem que podia ser considerada uma das maiores obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento (de quem mesmo?).

FONTE: Por Lúcio Flávio Pinto |
Cartas da Amazônia

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ríos Montt será primeiro ex-ditador centro-americano a ser julgado

Ele é acusado pela matança de 1.770 indígenas maias ixiles durante seu regime, entre 1982 e 1983

O ex-ditador guatemalteco Efraín Ríos Montt irá a julgamento pelo genocídio de povos indígenas durante seu regime entre 1982 e 1983, anunciou nesta segunda-feira (28/01) o juiz Miguel Gálvez, em uma decisão histórica por se tratar do primeiro ex -governante centro-americano a ser processado no continente.

Efe (28/01/2013)
Ríos Montt chega a tribunal da Cidade da Guatemala, onde foi decidido pelo julgamento do ex-ditador por genocídio

"Uma ordem foi emitida para o julgamento de Jose Efrain Ríos Montt pelos crimes de genocídio e de crimes contra a Humanidade", anunciou o juiz, ao ler a resolução em uma pequena sala de um tribunal da Cidade da Guatemala.

O ex-ditador, mantido em prisão domiciliar há um ano, é acusado de genocídio pela matança de 1.770 indígenas maias ixiles que ocorreu durante seu mandato no departamento de Quiché, norte, nesse que foi considerado o mais cruel da guerra civil guatemalteca, que deixou cerca de 200.000 mortos e desaparecidos entre 1960 e 1996.

O general Ríos Montt, de 86 anos, chegou pontualmente à audiência. Do lado de fora do tribunal, no centro da capital, um grupo de familiares das vítimas da repressão instalou um altar improvisado para uma cerimônia com oferendas, velas, incenso, flores e colocaram ainda lenços exigindo "justiça".

Efe (28/01/2013)

Fotos de vítimas de genocídio cometido durante a guerra civil guatemalteca, que durou de 1960 a 1996

Sob o regime do general Ríos Montt, que chegou ao poder depois de liderar um golpe de Estado em 1982, o Exército aplicou a chamada política da "Terra Arrasada" sobre populações indígenas acusadas de colaborar com a guerrilha esquerdista, no contexto da Guerra Fria.

Nas operações de terra arrasada, as forças do Estado no só exterminaram milhares de indígenas da etnia maia Ixil, como também destruíram habitações, gado, plantações e outros elementos de sobrevivência" desse povo, indicou um relatório da ONU.

* Com informações da Agência France Presse e da AVN (Agência Venezuelana de Notícias)

FONTE: OperaMundi

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nazistas brasileiros implantaram projeto de eugenia em São Paulo

Cinquenta órfãos foram levados do Rio de Janeiro para fazenda do interior paulista com o objetivo de serem “educados” e “purificados” pelo trabalho. O mantra “anauê”, do integralismo, era obrigatório
Edição 1959 de 20 a 26 de janeiro de 2013 
Euler de França Belém
Aloísio Silva, de 89 anos, passou pelo “programa” de“eugenia” dos nazistas brasileiros, em São Paulo, e sobreviveu para contar a história de seu fracasso.
No brilhante “A Segunda Guerra Mundial” (Bertrand Editora, 1095 páginas, tradução de Fernanda Oliveira), o historiador inglês Antony Beevor escreve, citando o nazismo de Adolf Hitler: “Chegou mesmo a haver a ideia disparatada de mandar eslavos para o Brasil e de fazer regressar, no seu lugar, colonizadores alemães da província de Santa Catarina” (página 551; a edição, por ser portuguesa, usa “província” no lugar de Estado). Se a ideia de trocar alemães e descendentes por eslavos não deu certo, no Brasil uma família de fazendeiros, simpática ao nazismo, escravizou crianças e chegou a fazer tijolos e bandeiras com a suástica. A “Revista de História”, da Biblioteca Nacional, publica um texto, “Entre a suástica e a palmatória”, na qual a repórter Alice Melo conta que, “nos anos 30, órfãos eram escravizados” numa “fazenda” do “interior de São Paulo por simpatizantes do nazismo”. A partir da leitura da tese de doutorado do historiador Sidney Aguilar Filho, “Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do Trabalho e Violência à Infância Desamparada no Brasil (1930-1945)”, defendida na Unicamp, a jornalista localizou algumas das vítimas da família Rocha Miranda.

Osvaldo Rocha Miranda levou 50 garotos órfãos, “na maioria negros”, para a Fazenda Santa Albertina, no município de Paranapanema, no Estado de São Paulo. Seu objetivo era, seguindo o ideário eugênico, educar por intermédio do trabalho.

Benfeitor do orfanato masculino carioca Romão de Mattos Duarte, Osvaldo Miranda, relata Alice Melo, “escolhia as crianças pessoalmente e as retirava para trabalhar em suas terras sob um contrato de tutelato. O documento tinha o aval tanto do juiz de menores da época quanto da madre superiora da instituição. Os meninos que não fugiram ou morreram permaneceram na localidade entre 1933 e 1945. Nunca receberam salário e, por vezes, eram submetidos a castigos corporais. Trabalhavam na lavoura junto aos adultos. Não tinham nomes, eram chamados por números, e permaneciam sob vigilância constante de um capataz”. As crianças eram agredidas com frequência.

Os irmãos Rocha Miranda tinham simpatia extrema pelo nazismo e se consideravam adeptos de Hitler. Alice Melo conta que “Sérgio Rocha Miranda marcava com a suástica tijolos da estrutura de todas as construções da fazenda, o lombo do gado de exposição, a bandeira da propriedade, que era erguida no mastro ao lado das bandeiras do Estado de São Paulo e do Brasil. Já o irmão Osvaldo era membro da Câmara dos Quarenta da Ação Integralista Brasileira, com outros dois irmãos, também proprietários de terras na mesma região. Em sua fazenda, os órfãos, mesmo sem ter sapatos, recebiam uniforme de cor verde, engomado, contendo o sigma integralista na braçadeira e no chapéu, para ir a festas nos fins de semana na cocheira da Fazenda Cruzeiro do Sul”. As pessoas que moravam na Fazenda Santa Albertina eram obrigadas a se cumprimentarem gritando “Anauê”, a fórmula tropicalizada do “Heil, Hitler!”. Eram integralistas mesmo sem saber do que se tratava.

A revista localizou Aloísio Silva, de 89 anos, uma das vítimas das práticas eugênicas da família Rocha Miranda. Ele mora em Campininha, cidade para qual mudou a maioria dos órfãos que foram liberados pela família com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Na fazenda, Aloísio cuidava dos animais, principalmente dos cavalos, e capinava. Por ter sido retirado do Rio de Janeiro, em novembro de 1933, não pôde conhecer a mãe. O professor Sidney Aguilar, de posse dos arquivos do orfanato, revelou-lhe o nome: Maria Augusta. As certidões originais dos meninos podem ter sido queimadas pela família Rocha Miranda.

Mesmo com idade avançada, Aloísio mantém a lucidez e relata como eram escolhidos os meninos para o projeto eugênico (Alice Melo reproduz fielmente a linguagem oral): “A primeira leva de dez meninos do Orfanato Romão Duarte foi escolhida a dedo por Osvaldo Rocha Miranda, com auxílio de seu motorista, André: ‘Ele recuou nós tudo num canto, no quintal de brincar. Aí colocou nós empilhado ali e ficou no passadiço em cima, com um saco de bala. Aí, de lá de cima, o major Osvaldo Rocha Miranda jogava um punhado de bala. E nós ia catar que nem galinha catando milho. Nós não sabia de nada... Então ele ia olhando e apontava com uma vara: André, põe esse pra lá, põe esse pra cá. Ele apartou dez da nossa turma. Na segunda vez que ele jogou as balas, nós já foi catá tudo com medo, assombrado, olhando pra cima. Nós não sabia o que ia fazer com nós. Depois que ele fez a escolha dele, falou: André, solta os outros’.” Osvaldo Miranda selecionava “os mais rápidos, espertos e fortes” — no que, como nota Alice Melo, repetia os nazistas ao escolher os que iam morrer e os que iam sobreviver nos campos de concentração e, sobretudo, de extermínio.

Escolhidos, os garotos, com idade de 9 a 11 anos, eram isolados por oito dias e, em seguida, eram levados em carros da polícia à estação de trem Central do Brasil. Diziam aos meninos que teriam boa vida no campo. Na fazenda, tinham “tutor”, na verdade um capataz paraibano, “ruim ‘mermo’”, diz Aloísio. A escravidão havia sido abolida 45 anos antes e estava na Presidência da República Getúlio Vargas, o político que criou a legislação trabalhista que, em tese, “libertou” os trabalhadores dos grilhões do capitalismo tardio patropi. Mesmo assim, segundo o relato de Aloísio, a vara de marmelo e a palmatória com cinco furos eram utilizadas com frequência. “A mão da gente chegava a ‘sangrá’ que a gente nem conseguia ‘escreve’ na escola no dia seguinte”, diz Aloísio. “Sabe que... Nem triste, nem feliz. Para mim, aquele lugar nunca existiu”, afirma Aloízio.

Alice Melo escreve que “os 50 meninos foram em três levas para a Santa Albertina — entre 1933 e 1934. No primeiro ano, cursaram a quarta série na escola”. Mas tudo indica que os Rocha Miranda pensavam muito mais no trabalho como forma de educar, de criar uma geração dura, do que na educação escolar. Os meninos viviam num sistema similar ao da escravidão, pois “permaneciam isolados dos demais moradores e só podiam deixar a propriedade acompanhados pelo capataz”, e, no lugar do nome, tinham números. Eles eram vítimas de uma experiência cruel, mas não tinham informações suficientes para avaliar o que estava ocorrendo.

Uma das histórias mais surpreendentes é a de Argemiro dos Santos, o Marujo, que, órfão, foi retirado do Educandário Romão Duarte e levado para a fazenda da família Rocha Miranda. Descoberto no interior do Paraná, Marujo tem quase 90 anos. Os pesquisadores descobriram que ele ganhou o apelido de Marujo porque “serviu à Marinha durante a Segunda Guerra Mundial”. Trabalhava nas caldeiras de um navio. Ele foi engraxate, mendigo, jogador de futebol, boxeador e tocador de trompete e pistom.

Marujo, assinala Alice Melo, “nunca contou a história da infância para ninguém da família, que só soube do assunto há poucos meses, após a visita de Aguilar Filho e, recentemente, da ‘Revista de História’. Seu Argemiro fugiu da fazenda quando tinha 13 anos: um belo dia, esperou a noite cair e deu no pé. Ninguém mais soube dele. ‘Eu falei pra mim: vou cair é fora desse negócio! Fui andando, peguei um caminhão até a Estação Engenheiro Hermillo e fiquei lá escondido. Quando apareceu o trem, eu fui lá e, pum!, entrei e fui parar em Sorocaba. Aí fiquei ali engraxando. Era jornaleiro, dormia num banco na praça. Mas logo caí fora, pensando em jogar futebol. Eu era bom de bola. Fui pra São Paulo”. Ao saber que a Marinha procurava voluntários para participar da Segunda Guerra Mundial, Marujo diz ter pensado: “Aí eu falei: opa! Se é pra morrer, vou morrer na guerra! Morrer sendo engraxate?” Na Fazenda Santa Albertina, Argemiro “cuidava dos bichos e capinava”. Era castigado com palmatória e recorda-se “do uniforme com marcas do integralismo”. Em Foz do Iguaçu, Marujo se tornou jogador do ABC, time de futebol local.

A “Revista de História” entrevistou Diva, viúva de José Alves de Almeida, que, na fazenda, atendia pelo número Dois. Liberado pela família, com o fim da Segunda Guerra Mundial, Dois, retomando o nome de José Alves, optou por ficar na fazenda, como trabalhador assalariado. O herdeiro Renato Rocha Miranda não seguia os métodos da família e, segundo Diva, “era muito bom”. “Zé Pretinho”, como José Alves era chamado pela família e pela própria mulher, já faleceu.

O curioso é que José Alves não foi escolhido pelo fazendeiro Osvaldo Rocha Miranda. “Foi enviado junto com os outros porque ‘fez malcriação’ para as freiras. Era para ele ‘aprender a se comportar’”, anota Alice Melo. Sua irmã, Judith, chorou durante vários dias, pois não pôde acompanhá-la. Ela ficou na parte feminina do orfanato. Só se encontraram décadas depois.

Ao final do texto, Alice Melo conta uma história que merece desenvolvimento. Uma irmã de Diva, Alice, morava na Fazenda Retiro Feliz, “propriedade de veraneio dos alemães Arndt von Bohlen Krupp e Annelise von Bohlen Krupp. Arndt era um jovem da alta sociedade europeia, filho renegado de Alfried Krupp, um dos donos do conglomerado de empresas Krupp — conhecidas por produzirem armas de fogo utilizadas na Segunda Guerra. Coincidentemente, os Rocha Miranda tinham relações comerciais com essas empresas. Alfried, em 1948, foi condenado por exploração de mão de obra escrava na Alemanha.

Noutro texto, “Racismo à brasileira”, Sidney Aguilar Filho registra: “Na Constituição brasileira de 1934, em seu artigo 138, está escrito que ‘Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos da leis respectivas: b) estimular a educação eugênica’. No Brasil das décadas de 1930 a 1940, a ‘educação eugênica’ foi aplicada às crianças, em especial aos filhos da classe trabalhadora mais empobrecida, sobretudo nos termos da época, entre ‘órfãos e abandonados, pretos ou pardos, débeis ou atrasados’”.

Sidney Aguilar Filho diz que três ministros da Educação da Era Vargas, Francisco Campos, Belisário Penna e Gustavo Capanema, “defenderam abertamente concepções eugênicas”. Afrânio Peixoto, no livro “Noções de História da Educação”, de 1936, “defendeu a segregação de crianças e adolescentes ‘degenerados’ como forma de garantir a ‘saúde da Nação’”. O historiador relata que o termo eugenia, “boa geração”, foi criado, em 1883, pelo antropólogo inglês Francis Galton.

Três livros examinam a presença nazista no Brasil: “Nazismo Tropical”, de Ana Maria Dietrich; “Suástica Sobre o Brasil — A História da Espionagem Alemã no Brasil” (Civilização Brasileira, 356 páginas), de Stanley Hilton; “Missão no Reich — Glória e Covardia dos Diplomatas Latino-Americanos na Alemanha de Hitler” (Odisseia Editorial, 543 páginas), de Roberto Lopes. Stanley Hilton revela que o poeta brasileiro Gerardo Mello Mourão espionou para os nazistas.


FONTE: http://www.jornalopcao.com.br

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Reavaliação de estudo diz que diminuição de QI está mais ligada a pobreza do que a uso de maconha

FONTE: Do UOL, em São Paulo
Se você espalhou para todos seus amigos a notícia de que o uso de maconha provocaria diminuição do QI (quociente de inteligência) na fase adulta, preste atenção a este novo estudo. A pesquisa publicada nesta semana desqualifica a conclusão ao afirmar que a condição social tem maior influência na deficiência das funções cognitivas. Incluindo a variável socioeconômica, o resultado do estudo anterior estaria superestimado e seu efeito real seria nulo. 

Ambos os estudos, publicados na conceituada revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS), analisaram dados de mais de mil crianças nascidas entre 1972 e 1973, em Dunedin, Nova Zelândia, que foram acompanhadas até completarem 38 anos. Elas eram entrevistadas periodicamente sobre o uso da maconha a partir dos 18 anos.

Madeline Meier, psicóloga da Universidade de Duke e autora do estudo original, disse que o status socioeconômico foi controlado e que, entre os participantes que não usaram maconha pesadamente na juventude, o QI permaneceu o mesmo ao longo de suas vidas, independentemente da situação econômica.Análises prévias já tinham mostrado relação entre fumar maconha quando era mais jovem e se tornar dependente à droga com a situação socioeconômica. Ole Røgeberg, autor do novo estudo e economista no CentroRagnar Frisch para Pesquisas Econômicas, em Oslo, na Noruega, disse que a pobreza, que pode levar a um menor nível educacional e a trabalhos menos desafiadores, está associada ao declínio do QI.

"Apesar [das conclusões], seria muito forte dizer que os resultados [da pesquisa original] foram desacreditados, que a metodologia é falha e que a inferência causal leva a resultados prematuros", diz Røgeberg no artigo.

Outros estudos publicados recentemente apontam que o uso frequente e pesado de maconha danifica o cérebro.



@saúde: Mitos e verdade sobre o uso da maconha no Brasil - 14 vídeos


@saúde: A maconha mata os neurônios?

Para responder a essa questão, o @saúde com Jairo Bouer recebeu o Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da UNIFESP.
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Julgamento do assassinato do casal de extrativistas deve ocorrer em abril



O Juiz Murilo Lemos Simão, da Vara do Tribunal de Júri de Marabá, marcou para o próximo dia 3 de abril, o julgamento dos acusados do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, crime ocorrido no dia 24 de maio de 2011, no interior do Projeto de Assentamento Praia Alta Piranheira, município do Nova Ipixuna, sudeste do Pará. O tribunal do júri ocorrerá no fórum de Justiça de Marabá.


Até o momento, foram processados e presos, José Rodrigues Moreira (mandante do crime) Lindonjonson Silva e Alberto Lopes (executores). No entanto, conforme escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, a decisão de mandar matar José Cláudio e Maria, não foi tomada apenas por José Rodrigues. Gilsão e Gilvan, proprietários de terras no interior do Assentamento também teriam participação no crime. 


José Rodrigues, antes de ser preso, em conversa com seu irmão de nome Dedé, pede que ele pressione os dois a contratar advogados para fazer sua defesa, caso contrário, os denunciaria.

Em uma das gravações aparece o seguinte diálogo: "Vê se tu vai na casa de Gilvazin e conversa com ele pessoalmente com. Tu fala com ele que ele sabe por que eu to conversando com ele, que ele providencia advogado e bota ai, por que senão vai pegar pra ele também e fala pra Gilzão também", "por que se eu cair (...), se eu cair eu entrego eles dois", "pois é, tu conversa com eles, que eles aciona advogado ai em Marabá, pra botar ai, (...) que o culpado é mais ele, ele Gilvan e Gil, ele se lasca", "ele sabe quem é os culpados nisso tudinho, ele sabe ... e o culpado é .... o Gilvan sabe também, é ele, Gilvan...”.

De acordo com investigações da polícia a causa principal do assassinato do casal foi a compra ilegal feita por José Rodrigues de uma área de 150 ha dentro do projeto de Assentamento Agro-Extrativista Praia Alta Piranheira. Em metade da área comprada já residiam 03 famílias, José Rodrigues tentou expulsá-las e não conseguiu devido o apoio de José Cláudio e Maria a elas. Em razão disso, Zé Rodrigues decidiu mandar matá-los. Após o assassinato do casal, as três famílias continuaram sendo ameaçadas, sem proteção da polícia, decidiram sair dos lotes. Com isso José Rodrigues se apossou destes colocando pessoas de sua família para assegurar os lotes enquanto ele continua preso.

A situação foi denunciada ao Superintendente do INCRA pela FETAGRI, STR de Nova Ipixuna, Associação do Assentamento e pela CPT (Comissão Pastoral da Terra). O superintendente do INCRA autorizou técnicos do órgão a retomar pequenos lotes de filhos de assentados que já residem no assentamento há vários anos. 

De acordo com CPT, não há nenhum conhecimento também se a Polícia Federal instaurou inquérito contra José Rodrigues pelo crime de ocupação ilegal de terra pública, crime previsto em lei, com pena de 1 a 3 anos de prisão, e também, tenha instaurado inquérito contra os madeireiros de Nova Ipixuna que extraiam ilegalmente madeira dentro do assentamento.

A professora Laisa Sampaio, irmã de Maria do Espírito Santo (assassinada) que continua residindo no interior do Assentamento e dando continuidade ao trabalho do casal, vem recebendo constantes ameaças e continua sem nenhuma proteção. A situação já foi denunciada à Secretaria de Segurança Pública do Estado, à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e à Casa Civil. Mesmo assim, sua inclusão no programa de defensores de Direitos Humanos foi negada e ela continua sem proteção.

Os familiares do casal e os movimentos sociais dizem confiar na condenação dos acusados pelo corpo de jurados e que o juiz estipule a pena máxima para os condenados que poderá chegar a 60 anos de prisão. Eles estariam preocupados vom o cumprimento das penas, pois, as fugas facilitadas na penitenciária Mariano Antunes de Marabá são constantes. Um dos acusados (Alberto Silva) fugiu da referia penitenciária em novembro passado, sendo recapturado, logo depois.


FONTE: MST.org.br

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Dilma sanciona lei de 50% de cotas em universidades federais

A presidente Dilma Rousseff sancionou nesta quarta-feira a lei que estabelece 50% de reserva de vagas nas universidades públicas federais para alunos de escola pública. A regulamentação da lei será elaborada até o fim do ano e o sistema de cotas já valerá no próximo vestibular.

O único veto feito pela presidente foi a um artigo que basearia a seleção dos estudantes com base na média das notas do ensino médio. "Foi um veto que resultou de uma opinião unânime do governo federal na medida que o MEC tem trabalhado para constituir o Enem como a forma universal de acesso a universidades federais", explicou a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros.

A lei estabelece que as universidades cheguem a oferecer metade das vagas por sistema de cotas no prazo máximo de quatro anos. Até lá, o governo ainda vai definir a gradação do percentual a ser aplicado a partir do ano que vem.

Além da chamada cota social, que atenderá alunos que estudaram o ensino médio em escolas públicas, a lei prevê ainda recorte étnico-racial, que vai variar segundo a proporção de negros e índios em cada unidade da federação, tendo como base o censo do IBGE.

"Acho que com essa lei demos um grande passo naquilo que se refere às ações afirmativas nas universidades. Em quatro anos que pode nos levar até total de 56 mil vagas reservadas para alunos negros", avaliou Luiza Bairros. Segundo ela, de 220 mil alunos no ensino público federal, apenas 8,7 mil são negros.

Fonte: Terra
Fonte: Blog Aldeia Gaulesa

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

ANÁLISE DO DEBATE NA RBA


Por Renato Santos e Luiz Feitosa *

Beto e Edivaldo

Edvaldo – PSOL: Não conseguiu se diferenciar dos demais, o que é uma obsessão constante de seu partido. Não conseguiu ser o diferencial, no sentido de instigar, cobrar e ironizar, como referências de seu partido conseguem fazer bem, a saber, Edmilson e Heloisa Helena. Muito apático, embora com fala firme, coerente e boa postura, não conseguiu se conectar com as pessoas, portanto, passando uma condição de semelhante a todos. Não se consegue perceber aprofundamento de proposições, com pouquíssimas falas neste sentido, das quais exemplificamos: Os Centros Culturais da Juventude nos bairros e o Plano Imediato de Infraestrutura e Saneamento. O seu pontoalto foi na resposta à pergunta de Luis Freitas, quando se associou à imagem de Edmilson.


Vavá Costa

Vavá – PPS: Talvez o pior dos debatedores. Muito afeito aos seus escritos, tanto para perguntar, como para responder. Com esta postura, passou uma ideia de não conhecer nenhum assunto com propriedade, tendo de recorrer sempre à leitura, para poder expressar-se. Nem assim, conseguia argumentar, pois balbuciava muito, lia errado e não conseguia utilizar o tempo estabelecido nas regras. Esta série de erros não deu condições para que expressasse direito suas propostas.


João Bernardes

João Bernardes – PV: Talvez o diferencial do debate, pois, com uma fala popularesca e gesticulação constante, conseguia chamar atenção, embora tenha se mostrado visivelmente limitado, especialmente no que se diz respeito a conhecimento, a seu programa, com falas muito genéricas e ainda, por vezes, na articulação de ideias, pois seguidas ocasiões balbuciava. Todavia se diferenciou por não estar entre os 4 melhores candidatos em pesquisas, como também, por não ter experiência administrava recente, por isso mesmo acabou por atrair a atenção e cumprir um papel de diferencial que poderia ser do PSOL. Não passou em branco no debate, ou seja, conseguiu aparecer e se mostrar, mesmo com suas limitações.


Chicão

Chicão – PMDB: Mostrou-se apagado. Foi o pior debatedor, principalmente por representar atual administração. Não conseguia falar como alguém que domina a administração, embora tenha tentado. Seu ponto alto foi o diálogo com o Pioneiro, quando por duas vezes alfinetou com perguntas sobre a gestão comparada entre 8 anos de Pioneiro e 8 anos de Helder. Por vezes tinha uma expressão que beirava o nervosismo e a insegurança. Além de cometer erros imperdoáveis para um candidato debatedor, como chamar o candidato Pioneiro de Prefeito, ao se referir ao mesmo, evidenciando uma relação antiga, hoje desgastada. Foi a decepção do debate, pois se esperava muito mais dele.


Pioneiro

Pioneiro – PSDB: Visivelmente distanciado da realidade do município e sem propostas consistentes, apelava para seu carisma com o povo e a admiração que a população nutre por ele, utilizado jargões, como: ‘você sabe’, ‘vou governar com você’ ou ‘para você’ e similares. Não há conteúdo em suas falas, isto é reflexo do seu programa de governo. Utilizou falas evasivas, superficiais e genéricas, apenas fundadas no ‘eu vou fazer’. Não se revelou um debatedor irônico perante os demais candidatos, por estar em primeiro nas pesquisas, pois poderia ganhar antipatia do eleitorado. Talvez este fosse um diferencial no debate. Houve de certa forma, uma perda de identidade, induzida pelo seu marketing, que o prejudicou. Por isso, teve um desempenho ruim e foi o segundo pior, perdendo apenas para o Chicão, em falta de expressão e conteúdo.


Eliel Faustino

Eliel – PR: Não se deixou passar desapercebido no debate. Assumiu uma postura de detentorde conhecimento, com fala branda e bem pausada, postura bem alinhada e expressão de ‘inteligência’. Teve falas firmes, sem se perder no que dizia. Suas limitações são programáticas e administrativas, pois não acrescentou ideias novas ao debate e não conseguiu dizer o quê já fez, pois nunca assumiu cargos executivos. Seu desempenho positivo se limita, portanto a sua postura. Seu ponto alto está relacionado com a pergunta de Luis Freitas sobre as emendas orçamentárias dos deputados-candidatos para Ananindeua. Utilizou bem sua marcar de uma Nova Ananindeua, fazendo uso recorrente disto para diferenciar-se. Tentou emplacar uma suposta mediação e trânsito com os governos federal e estadual, mas não conseguiu neste debate.


João Batsta Pte do PT Pará e Luís Freitas

Luis Freitas – PT: Conseguiu ligar-se à imagem de Lula e Dilma, o que é muito positivo para sua campanha. Sua vantagem sobre Eliel é exatamente o fato de ter conteúdo, ter propostase poder falar de coisas que já conseguiu realizar, quando foi secretário municipal, o que foi demonstrado quando abordou os setores da cultura e do transporte. Sua fala, embora com conteúdo não utilizou recursos possíveis, como a ênfase, a brandura e a pausa, que poderiam ser utilizados de forma alternada, ocorrendo, por vezes certa pressa em comunicar a mensagem. Utilizou pouco a sua marca da Mudança de Verdade, ao contrário de Eliel. Mesmo sendo o mais propositivo, poderia explorar mais o seu Programa, como na oportunidade em que falou sobre Cultura. Poderia ter ganho o debate com mais facilidade, exatamente por conta de suas vantagens programáticas, que não se evidenciam apenas sobre Eliel, e sim sobre todos os outros, pois já os analisamos e na sua maioria se mostram fracos e perderam a oportunidade de se apresentar no debate, especialmente por suas propostas. Luis Freitas poderia obter ganhos evidentes, mas não conseguiu dar o
xeque-mate em Pioneiro, algo que seria enaltecido, caso o fizesse com uma pitada de acidez e
ironia - o que não foi detectado em Edvaldo e, tão pouco em João Bernardes, a surpresa do debate.
Esta atitude, certamente, instigaria os debatedores e esquentaria o morno debate. Sem isso, não lhe possibilitou ser o diferencial entre os debatedores. Talvez nos outros debates possa corrigir sua estratégia para aliar conhecimento, conteúdo, propostas, experiência administrativa e superioridade em relação aos demais concorrentes. A estrutura do debate e a distribuição do tempo impediu que o debate fosse mais profundo. Isto é uma característica dos debates paraenses. Esperamos que ocorram mais debates e que surjam as polêmicas que dão sabor a esse tipo de apresentação aos eleitores. Os grandes ausentes foram os Programas de Governo, pois basta ler as propostas que foram cadastradas no CANDEX-TSE, para comprovar quem de fato se preparou para governar Ananindeua, somente dois conseguiram demonstrar um bom e exequível programa de governo e apresenta-los no debate: Eliel e, especialmente, Luis Freitas.

* Renato Santos é bacharel e licenciado pleno em Geografia pela UFPA. Militante dos Movimentos Sociais de Ananindeua e coordenador do Instituto Nova Cidade. Oriundo de setores progressistas da Igreja, como as CEBs, Pastorais Sociais e Pastoral da
Juventude.
** Luiz Feitosa é professor universitário, bacharel e especialista em estatística pela UFPA. Mestrando em Ciência Política pela UFPA.

Fonte: AnanindeuaDebate
Fotos: Rui Baiano